Com “Sem Fronteiras”, o DJ Glênio Reis é líder de audiência
RENATO MENDONÇA
- È mesmo como se o tempo não passasse. Estou com quase 82 anos, mas sou o mesmo Glênio, com tesão pelo que faço, com a alma e o coração em festa – diz o disc-jóquei.
A festa que Glênio propõe parece não ter fim. – Sem Fronteiras que vai ao ar aos sábados, entre 21h e meia noite, registra o triplo de audiência se comparado ao seu concorrente mais direto. O modelo do programa é radical: o comunicador não atende ligações telefônicas dos ouvintes, não recebe e-mails, não atende pedidos de música. O único critério é o lema “Sem preconceito, mas também sem lugar para a mediocridade”, o que abre espaço para bons discos independentes, uma sessão de tango e sucessos de Orlando Silva, Celine Dion, Eliseth Cardoso e César Passarinho.
- As pessoas ouvem o programa porque confiam em mim. Mais do que isso, porque sabem que vou surpreendê-las.
Quem examina os mais de 50 anos de carreira de Glênio não se surpreende que seu diferencial seja justamente o fator surpresa. Em 1958, ele foi pioneiro em reconhecer e divulgar a revolução que a bossa nova propunha na voz contida de João Gilberto, mas não abriu mão do humor ao inventar o personagem Sherlock que percorria as lojas de disco da Capital em busca de novidades para seus ouvintes. Nos anos 1960, ele saía com um gravador portátil – naquela época, portátil era algo quase do tamanho de duas caixas de sapato – pelo centro de Porto Alegre para entrevistar de populares a políticos. Nessa fase, o comunicador também aprontava na TV. No programa Disc é Jóquei, na TV Piratini, ele aparecia montado em um cavalo pangaré, vestido de jóquei para comentar ao vivo os lançamentos fonográficos. E não hesitava em colocar uma peruca e dublar Banho de Lua, fazendo as vezes de Celly Campelo.
Era de Glênio ainda o comando de GR Show, transmitido aos sábados à tarde pela TV Gaúcha, no final dos anos 1960. Afinado com o iê-iê-iê vigente, o comunicador criou um conjunto para tocar os sucessos da época, novamente surpreendente:
- Colocamos um naipe de sopros ao lado de guitarras, baixo e bateria.
Mais perto dos anos 1970, Glênio colocou nas ondas do rádio o Programa da Pesada, que não fechava portas nem ouvidos para atrações roqueiras, como Jimi Hendrix, Led Zepelin ou Steppenwolf. No front local, incentivava grupos como o Liverpool Sound, que mais tarde se transformou no Bixo de Seda. Nos anos mais recentes, foi uma das principais vozes do nativismo, transmitindo festivais desde o Interior pela Rádio Gaúcha.
Ainda que continue entusiasmado, Glênio diz que se sente insatisfeito com a música que se faz atualmente:
- Onde está um letrista como Aldir Blanc? Os artistas parecem mais interessados na parte visual do que na musical.
Frente a alguém tão antenado em música, só falta perguntar: “E o senhor nunca quis ser músico?”
- Ainda bem que não. Tenho todas as músicas na cabeça, harmonias de Chet Baker a Led Zepelin, de Sérgio Rojas a Chico Buarque. Mas ia ser minha perdição, eu ia comer, beber, viver e morrer música.
renato.mendonça@zerohora.com.br
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Glênio Reis, que ficou conhecido como o primeiro comunicador a ser chamado de disc-jóquei no Rio Grande do Sul, monta o repertório dos seus sonhos:
Músicas:
* All by Myself, * All the Way, * New York, New York, * Something, * Satisfation, * "Penny Lane".
Intérpretes:
César Passarinho, Chico Buarque, Ellis Regina, Tom Jobim, João Bosco e Aldir Blanc, Orlando Silva, Pixinguinha.
_______________________________________________________“Glênio é um senhor da comunicação, especialmente da comunicação radiofônica. Além do talento e da habilidade para o ofício, ele acumula o prazer pela arte e pela música. Glênio é inestimável.” Ruy Carlos Ostermann.
_________________________________________________SINTONIZE-SE 600 AM 93.7 FM
Sem Fronteiras, aos sábados, às 21h, com Glênio Reis
(Transcrito do caderno TV + SHOlW - Zero Hora, Domingo, 22 de Março de 2009.
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